sexta-feira, outubro 28, 2011

Alunos sem ligação com siglas políticas vencem eleição do DCE da UnB

A fragmentação das chapas de esquerda é apontada como o principal motivo para o resultado

Flávia Maia e Ricardo Taffner

Formada por 27 pessoas, a nova direção do colegiado buscou votos entre os universitários que, até então, não costumavam participar do pleito: 'Nosso partido é a UnB' ( Breno Fortes/CB/D.A Press )
Formada por 27 pessoas, a nova direção do colegiado buscou votos entre os universitários que, até então, não costumavam participar do pleito: "Nosso partido é a UnB"
Surpreendente. Assim pode ser definido o resultado das eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de Brasília (UnB). Pela primeira vez, desde a redemocratização do país, uma chapa de direita se candidata e ganha o principal posto de representação estudantil na instituição. Apesar de ter abocanhado apenas 22,13% dos 5.782 votos, a Chapa 8, Aliança pela liberdade, de princípios conservadores e moralistas, garantiu a vitória. A apuração terminou na madrugada de ontem e, antes mesmo da posse da nova diretoria, as reações contrárias começaram. No fim da contagem das cédulas, muitos estudantes gritaram: “Eles não nos representam”. Em páginas de relacionamento na internet, alunos se manifestaram contra e a favor da virada de orientação política dentro da universidade.

Historicamente ocupado pela esquerda, a perda do comando do DCE significou um golpe cruel aos grupos que tradicionalmente formaram líderes dentro do movimento estudantil. Uma das justificativas para a vitória da chapa conservadora foi a fragmentação da própria esquerda na UnB. Para esse pleito, oito grupos se inscreverem, desses, seis eram ligados a partidos políticos de orientação esquerdista, como PSTU, PSol e PT.

Outro fator que contribuiu para a nova ordem foi o descrédito com as antigas gestões, principalmente com a União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao PCdoB, no poder desde a década de 1990. Pela resposta nas urnas, os estudantes querem renovação. “A maioria das chapas era de esquerda e a de direita não era tão conservadora. Por isso, escolhi a Chapa 8”, explicou Rayssa Brandão, 18 anos, estudante do 2º semestre de engenharia ambiental.
Descrédito
O pragmatismo da chapa também gerou interesse de grupos de alunos que, tipicamente, não se envolvem com as questões do movimento estudantil. As propostas fizeram sucesso entre alguns estudantes, como os da Faculdade de Tecnologia (FT). Na eleição passada, menos de 20% dos alunos da FT compareceram às urnas. Neste pleito, quase 60% desses universitários votaram. A Faculdade de Administração, que abriga os cursos de direito, de economia e de ciência política, também contribuiu para a vitória da Chapa 8.
O descrédito com que a Aliança pela liberdade foi tratada pelas concorrentes também influenciou o resultado. Durante a campanha, a maioria dos grupos focou a atuação em minar a Chapa 3, com número maior de participantes, além das ligadas à gestão atual do DCE. Sem oposição, os conservadores foram conquistando os alunos que, geralmente, preferiam se abster do processo eleitoral. “Sabemos que 22% é pouco em relação à representatividade dos estudantes da universidade, mas vamos tentar o diálogo para melhorar a nossa instituição. O nosso partido é a UnB”, disse André Maia, criador da chapa.
Para o reitor, José Geraldo de Sousa Júnior, a surpresa da vitória da Chapa 8 vai permitir à direção da universidade conhecer os anseios dos estudantes que, agora, se sentiram motivados a votar. “Esses alunos eram a massa silenciosa e conservadora da UnB. Estou curioso para saber como será essa gestão, vai ser um aprendizado”, disse.
A estudante do 6º semestre de antropologia Iara Vicente conta que quase perdeu um voo para participar da eleição. Ela temia que a universidade sofresse uma virada ideológica, como aconteceu. “O que me preocupa é que eles não estão interessados com a assistência estudantil. No lugar de pedir ampliação do Restaurante Universitário (RU), prometeram pleitear mais concessões para lanchonetes e pontos de xerox”, reclama. A UnB têm 35 mil estudantes de graduação e de pós-graduação, desses, 5.782 votaram na terça e quarta-feiras. A Aliança pela liberdade recebeu 1.280 votos e assumirá o diretório na próxima semana.
Principais propostas dos vencedores
» Implantação de um sistema parlamentarista para o DCE. A ideia é que cada centro acadêmico eleja um representante para compor a “assembleia”.
» Defesa de parcerias público-privadas na pesquisa acadêmica.
» Melhoria da infraestrutura da universidade. O projeto envolve a reparação de salas de estudo e de laboratórios e o fornecimento de papel higiênico e de toalhas de papel em todos os banheiros.
» Criação de um parque tecnológico.
» Apoio às empresas juniores.
» Aumento de concessões para a instalação de lanchonetes e
de papelarias no câmpus.
» Defesa da presença policial na universidade para garantir a segurança da comunidade acadêmica.
Voto a voto
1º - Aliança pela liberdade - 1.280 votos
2º - Mobiliza UnB - 1.092 votos
3º - Junt@s somos mais - 955 votos
4º - Canto novo - 779 votos
5º - Transparência, unidade e ação: UnB, novos ares lhe caem bem - 562 votos
6º - Pra mudar a UnB — Oposição ao DCE - 341 votos
7º - DCEntralizar pra unificar - 315 votos
8º - Democracia e ação direta - 301 votos
Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2011/10/28/interna_cidadesdf,275951/alunos-sem-ligacao-com-siglas-politicas-vencem-eleicao-do-dce-da-unb.shtml

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