sexta-feira, março 15, 2013

O exemplo vem de Londres


 
Causou horror o triste episódio do ciclista atropelado no último domingo, na avenida Paulista em São Paulo. O rapaz trafegava na contramão pela pista quando sofreu o impacto de um automóvel e teve o braço amputado. Os detalhes mórbidos do caso, a influência do alcool sobre o motorista e a exposição da bicicleta retorcida diante das milhares de pessoas que passeavam na ciclofaixa de lazer, horas mais tarde, levaram o caso às manchetes da mídia. E geraram manifestações de protesto que paralisaram a avenida.
 
Diariamente recebemos notícias de acidentes envolvendo bicicletas em cidades de todas as regiões do país, em capitais movimentadas, mas também em pequenas localidades do interior, muitas vezes com mortes de crianças e idosos. Enfim, trata-se de um drama cotidiano, silencioso. Se incluirmos os milhares de atropelamentos de pedestres, os casos envolvendo motocicletas, e os acidentes com choques entre veículos, chegamos à triste taxa de 42 mil mortes em 2012, segundo dados do Denatran, ou quase 60 mil pessoas, conforme cifras do DPVAT.
 
E um levantamento divulgado ontem (12) pela Secretaria de Saúde de São Paulo indica que nove ciclistas são internados por dia em hospitais públicos vítimas de acidentes de trânsito no estado. Segundo o relatório, em 2012 foram 3,2 mil pessoas internadas pelo SUS a um gasto de R$ 3,3 milhões.
 
Medidas como o controle sobre o uso de bebidas alcoólicas ou campanhas educativas tendem a reduzir esse número, mas talvez o maior desafio seja a reorganização do tráfego. Embora grande parte dos cicloativistas defendam o compartilhamento das vias entre bikes e carros, a experiência mundial mostra a necessidade de segmentar as faixas exclusivas para ciclistas, pelo menos nas áreas mais conflituosas das cidades
 
Depois de Amsterdã, Berlim e Nova York, agora a prefeitura de Londres promete investir nada menos de um bilhão de libras (cerca de R$ 3 bi) em seu “Masterplan Cicloviário”, para a construção de ciclovias.
 
A capital londrina já avançou bastante na coexistência entre bikes e carros, como explica Mike Cavennet, diretor de comunicação da London Cycling Campaign. Em sua visão, é preciso segurança para que mais gente aceite trocar o carro pelo pedal, mas também é preciso mais ciclistas para que a cidade se torne mais segura para eles. "Quanto mais gente pedalando entre seus amigos e familiares, melhor. Quanto menos ciclistas você conhece ou vê nas ruas, mais 'motorcêntrica' tende a ser a cultura", afirma Cavennet.
 
Se em Londres, o estímulo à bike busca a redução das emissões, no Brasil continuamos queimar os combustíveis fósseis sem limitações. Em São Paulo, a meta de reduzir 30% das emissões de gás de efeito estufa prevista na lei 14.933 de 1999, não foi cumprida pelo município. Pior, a cidade aumentou a emissão de gás em 2010 e 2011 e tende a aumentar ainda mais nos próximos anos em função do crescimento da frota.
 
Boa notícia vem de Brasília, onde o Ministério das Cidades acaba de criar um Grupo Técnico em Mobilidade Urbana que irá reunir a Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana e uma série de organizações da sociedade civil para reunir e gerar informações sobre a situação da mobilidade urbana em todo o país. É um passo básico para a geração de novos projetos.

Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil
 

Nenhum comentário: